Como e porque seu corpo pode estar acumulando plástico

Sabemos que o avanço da tecnologia trouxe um alto custo para a natureza. É mais comum uma pauta da preservação ambiental ligada a diminuição da emissão de poluentes gasosos como o CO2 na atmosfera, ou ainda a diminuição das queimadas, que além de um ataque direto a fauna e flora, também concorrem para o aumento da emissão de CO2.

Mas existem ainda outros poluentes que devem ter especial atenção. Um destes poluentes é o plástico. Embora o descarte de plásticos na natureza e seus impactos já sejam discutidos amplamente a décadas, duas novas preocupações mostram o perigo direto destes produtos para os ser humano. São os microplásticos e os nanoplásticos.

Microplásticos podem ser visíveis a olho nú. Mas diluídos ou misturado aos alimentos, normalmente passam desapercebidos.

Microplásticos
São um dos principais poluentes dos oceanos. A lavagem de roupas e tecidos é uma das principais fontes de microplásticos, que são liberados na forma de microfibras. Microplásticos também podem ser encontrados em alimentos, como carne e frutos-do-mar. No corpo humano, já foram encontrados em partes expostas ao ambiente, como pulmões, boca, anus, placenta e útero. A exposição contínua a microplásticos e seus aditivos químicos pode causar danos cardíacos, distúrbios endócrinos e redução da fertilidade.

Nanoplásticos
Podem ser introduzidos no meio ambiente por meio da lavagem de roupas, cosméticos, produtos de higiene, tintas, pesca fantasma, descarte incorreto, entre outros. Os nanoplásticos podem incorporar partículas tóxicas, entrar na cadeia alimentar, causar poluição química, retardar o crescimento de plantas, apresentar riscos para a vida animal e provocar prejuízos à saúde humana. Alguns estudos sugerem que os nanoplásticos podem ser um fator de risco para doenças cardíacas.

Quando escapa para o meio ambiente, o nanoplástico atua como captador de poluentes orgânicos persistentes (POPs) altamente nocivos. Dentre esses poluentes estão os PCBs, os pesticidas organoclorados, o DDE e o nonilfenol. Os POPs são tóxicos e estão diretamente ligados a disfunções hormonais, imunológicas, neurológicas e reprodutivas. Eles ficam durante muito tempo no ambiente e, uma vez ingeridos, têm a capacidade de se fixarem na gordura do corpo, no sangue e nos fluidos corporais de animais e humanos.

Ingerir nanoplásticos contaminados não é muito difícil, já que essas partículas estão presentes no meio ambiente desde o final da Segunda Guerra. Na Indonésia, trabalhadores da pesca já estão consumindo mexilhões contaminados por plásticos. Mas não é somente na Indonésia, no Reino Unido e na Austrália, os mexilhões também estão contaminados por essas partículas.

Um litro de água engarrafada pode conter 240.000 microplásticos.

Um estudo recentemente publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences introduziu uma técnica que identifica rapidamente o tamanho e a composição dessas minúsculas partículas de plástico. Surpreendentemente, uma média de 240.000 partículas de plástico foram descobertas em um único litro de água engarrafada – mais do que as estimativas anteriores.

Até o momento os filtros domésticos comuns não podem dar conta de filtrar completamente estas substâncias, quando elas chegam através da água, em nossas casas. E certamente não temos completo controle sobre a qualidade dos alimentos que consumimos, mesmo quando eles nos são fornecidos como “orgânicos.”

Nanopartículas de plástico (verde), visíveis ao microscópio, mescladas com agregados de proteínas (roxo), em lisossomas neuronais. Crédito: Duke Health.

Uma solução está surgindo

Assim como a tecnologia evolui de forma a tornar a vida das pessoas mais mais leve e possibilitar o que antes não era possível, e ao mesmo tempo gerar problemas ambientais, por outro lado há um grande número de cientistas buscando soluções para estes problemas.

Um projeto de filtro ecológico, desenvolvido por cientistas brasileiros, acaba de ganhar medalha de ouro na categoria de Biorremediação do iGEM, competição global criada em 2003 pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Desenvolvido por pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), de São José dos Campos, interior paulista, o B.A.R.B.I.E. 4.0, é composto por uma matriz biológica que utiliza a principal proteína presente na teia de aranhas acoplada a proteínas de ligação ao plástico e a um biossensor para detectar o material na água.

O CNPEM já depositou uma patente para proteger a invenção da proteína BARBIE1, aplicada tanto no biossensor quanto no Eco-filtro.

“O filtro ainda está no estágio de desenvolvimento. Nós desenhamos essa proteína que tem capacidade aumentada de se ligar em diferentes microplásticos que são contaminantes e que acabam indo para a água. 

Essa proteína tem a capacidade de formar um hidrogel que tem a capacidade de filtrar e combinado com essa proteína Barbie, tem uma capacidade ainda mais alta para filtrar esses microplásticos e nano plásticos, que são partículas muito pequenas de plástico que são geradas pela degradação do plástico, principalmente aquele que é descartado de forma errada”, explicou a pesquisadora do CNPEM e responsável pelo projeto, Gabriela Persinoti.

Segundo Gabriela, a ideia é usar os filtros convencionais já utilizados nas residências e adicionar esses novos dispositivos no final do filtro. Desta forma, primeiro são filtradas partículas maiores, e depois os microplásticos. A percepção de que essas partículas, quando ingeridas, podem se alojar em partes do organismo é recente e ainda não há regulamentação no Brasil da quantidade tolerada.

“No Brasil ainda não existe regulamentação sobre a quantidade máxima de microplástico que pode haver na água, então esse projeto é muito importante para investirmos tanto na regulamentação quanto na filtragem. O problema das micro e nano partículas está bem na fronteira do conhecimento, então é importante discutirmos isso com entidades regulatórias e cientistas para propormos soluções e a regulamentação disso, para evitarmos problemas de saúde futuros devido ao acúmulo dessas substâncias no corpo”, afirmou.

A cientista disse que ainda que não há previsão para que a tecnologia entre no mercado porque ainda é necessário ampliar os testes com os outros plásticos para ter uma robustez maior. Por enquanto os testes foram feitos com plástico utilizado para fazer o isopor. Depois desses testes será possível elaborar mais protótipos e chegar ao produto final a ser distribuído para o mercado.

Barbie
Desenvolvido por pesquisadores do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), estagiários, e estudantes de pós-graduação e da Ilum Escola de Ciência, o projeto ganhou o nome de BARBIE 4.0 porque forma, em inglês, a sigla: Bioengineered Aquatic Pollutants Removal and Biosensing through Integrated Eco-filter (Remoção de Poluentes Aquáticos por Bioengenharia e Biossensorização por meio de filtro Ecológico Integrado).

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