De general a padre, os envolvidos no plano de golpe contra a democracia, segundo investigações da PF
O Brasil está despertando para a realidade do poder e de como ele foi utilizado para planejar um ato de golpe contra a democracia.
As provas apresentadas até o momento, pela Polícia Federal, não são circunstanciais. Farta documentação com vídeos, áudios e documentos escritos, além de depoimentos, deram segurança para que após um ano de investigações as ações fossem tomadas, acordando o Brasil.

Bolsonaro, autoridades do alto escalão do governo e forças armadas e até padre, são alvos da investigação sobre plano de golpe contra a democracia brasileira. A todos cabe ampla defesa e presunção de inocência até o final do processo. Isso é democracia.
A operação “Tempus Veritatis” (hora da verdade), acordou o Brasil ontem (8). E este despertar não é apenas pelo fato de ter ocorrida já nas primeiras horas do dia, mas sim por revelar planos sórdidos, com vasta documentação, inclusive vídeos e áudios, que mostram a reunião de autoridades, sob o comando do então presidente Jair Bolsonaro, desenhando um golpe contra a democracia antes, durante e depois das eleições de 2022, com a única finalidade de manter Bolsonaro na presidência.
Nesta matéria vamos apresentar algumas destas provas que estão no processo que apura os fatos. Portanto esta matéria e o que aqui está apresentado, consta no processo e na operação da Polícia Federal. Muita coisa ainda está em segredo de justiça e certamente serão liberadas com o avanço das investigações. O segredo de justiça foi fundamental para que todas as provas fossem reunidas em mais de um ano de investigação que atingiu instituições e pessoas de grande poder no Brasil.
A primeira comprovação de que havia um plano golpista é um documento que passou a ser chamado de “minuta do golpe” que detalhava diversas estratégias para a execução do golpe. Inicialmente, quando o documento foi revelado, Jair Bolsonaro negou seu conhecimento. Agora a PF apresenta provas de que o ex-presidente não apenas conhecia o documento, como também orientou modificações neste documento em reunião que foi gravada em vídeo. Após as mudanças no documento, Bolsonaro convocou generais e comandantes das Forças Armadas para apresentar a minuta e pressioná-los a aderir ao golpe.
Os militares que aderiram ao golpe passaram a pressionar colegas para que estes também aderissem. Em uma das conversas captadas pela PF, o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa, chegou a chamar o comandante do Exército, general Freire Gomes, de “cagão” para pressioná-lo a aderir ao golpe.
Bolsonaro convocou uma reunião em julho de 2022 com a alta cúpula do governo, incluindo o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, para discutir estratégias que assegurassem a sua vitória nas eleições. Na ocasião, general Augusto Heleno, que chefiava o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), defendeu que, se tivesse que “virar a mesa”, que fosse “antes das eleições”. A PF encontrou um vídeo da reunião em um computador apreendido na casa de Mauro Cid.
Como era a organização golpista
A organização tinha cinco eixos de atuação: 1 – ataques virtuais a opositores; 2 – ataques às instituições (STF e TSE) e ao sistema eleitoral; 3 – tentativa de golpe de estado; 4 – ataques às vacinas contra a Covid-19; e 5 – uso da estrutura do estado para obter vantagens, como desvios de bens, a exemplo do caso das joias.
Em vídeo apreendido pela PF, Bolsonaro e auxiliares trocam falas golpistas; ex-presidente ordenou disseminação de fake news.
“E eu tenho falado com os meus 23 ministros. Nós não podemos esperar chegar 23, olhar para trás e falar: o que que nós não fizemos para o Brasil chegar à situação de hoje em dia? Nós temos que nos expor. Cada um de nós. Não podemos esperar que outros façam por nós. Não podemos nos omitir. Nos calar. Nos esconder. Nos acomodar. Eu não posso fazer nada sem vocês. E vocês também patinam sem o Executivo”, falou Bolsonaro.
Em seguida, Bolsonaro intima os ministros a difundirem informações fraudulentas como tentativa de reverter a situação na disputa eleitoral.
“Daqui pra frente, quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar, ele vai vir falar para mim por que ele não quer falar”, afirmou.
“E a gente vê que o Datafolha continua mantendo a posição de 45% e, por vezes, falando que o Lula ganha no primeiro turno. Eu acho que ele ganha, sim. As pesquisas estão exatamente certas. De acordo com os números que estão dentro dos computadores do TSE”, disse Bolsonaro.
“Vou fazer uma reunião quinta-feira com embaixadores, semana que vem. Vou convidar autoridades do Judiciário para outra reunião, para mostrar o que está acontecendo”, bradou Bolsonaro.
Desinformação e fake news
A PF destaca que o então presidente da República deixa claro que exigiria dos ministros, “em total desvio de finalidade das funções do cargo”, que replicassem em suas áreas “todas as desinformações e notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da estrutura do Estado brasileiro para fins ilícitos e dissociados do interesse público.”
“Se apresentar onde eu estou errado eu topo. Agora, se não tiver argumento pra me demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Está no lugar errado. Se está achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar como ganhei em 2018, e vou prova, o cara está no lugar errado”, diz a transcrição feita pelos investigadores e apresentada ao STF.
Em outro ponto da reunião, Bolsonaro propõe que os presentes participassem da redação de um documento que afirmasse ser impossível “definir a lisura das eleições” e incluísse elementos externos, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Virada de mesa antes da eleição
Um dos participantes da reunião, seguindo a PF, foi o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno — também alvo de busca e apreensão na operação desta quinta-feira.
Segundo os investigadores, Heleno chegou a começar a discutir a infiltração de agentes da Abin nas campanhas eleitorais, mas Bolsonaro interrompeu o tema para que conversassem sobre o assunto “em particular”.
Em outro ponto, a PF transcreve uma fala de Heleno em que ele ressalta que “se tiver que virar a mesa é antes das eleições” e que seria necessário “agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas”.
“Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa, é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições (…) Eu acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar a um ponto em que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro”, transcreve a PF.
A documentação farta produzida através da transcrição do vídeo, que inclusive teve sua gravação feita a pedido de Jair Bolsonaro, não deixa dúvidas sobre como o golpe estava sendo planejado e do grande número de envolvidos com o poder e com interesse na sua manutenção.
Assessoria de padre católico
Um aspecto que deixou muita gente chocada, foi, segundo o ministro Alexandre de Moraes, a participação do padre José Eduardo de Oliveira que assessorava na elaboração de minutas de decretos jurídicos e doutrinário para a tentativa de golpe. O padre terá que cumprir medidas cautelares.
Posição de Jair Bolsonaro sobre as investigações
A defesa de Jair Bolsonaro afirmou que o advogado dele, Paulo Amador da Cunha Bueno, enviou a suposta minuta do golpe para o celular do ex-presidente, para que ele “pudesse tomar conhecimento do material dos referidos arquivos”.
De acordo com a defesa do ex-presidente, em 2023, após a apreensão de celulares do tenente-coronel Mauro Cid, a investigação encontrou possíveis minutas de decretos de Estado de Sítio ou GLO durante a análise dos aparelhos.
Em nota, a defesa disse que teve acesso aos arquivos da investigação e que o ex-presidente, desconhecendo o conteúdo das supostas minutas, solicitou o documento.
Em conversa com a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, Bolsonaro afirmou que é perseguido.
“Saí do governo há mais de um ano e sigo sofrendo uma perseguição implacável. Me esqueçam, já tem outro governando o país.” desabafou o ex-presidente.
Postura de Lula sobre as investigações
Lula deu as declarações à “Rádio Itatiaia”, em Minas Gerais, horas após a Polícia Federal deflagrar uma operação contra Bolsonaro, ex-ministros e ex-assessores investigados por tentar dar um golpe de Estado e invalidar as eleições presidenciais vencidas por Lula.
“Eu, sinceramente, não tenho muitas condições de falar sobre uma ação da Polícia Federal porque isso é uma coisa sigilosa, é uma coisa da polícia, uma coisa da Justiça. E não cabe ao presidente da República ficar dando palpite numa atuação dessa”, disse Lula.
“Nós queremos saber quem é que financiou, queremos saber quem é que pagou, quem é que financiava aqueles acampamentos, sabe, para que a gente nunca mais permita que aconteça o ato que aconteceu no dia 8 de janeiro”, prosseguiu o presidente.
Lula repetiu, na entrevista, a ressalva que tem feito sempre que é questionado sobre os inquéritos de Bolsonaro: que defende a presunção de inocência. Lula costuma dizer que não teve direito a essa presunção de inocência quando foi alvo da operação Lava Jato, na década passada.
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