STF abre inquérito contra Moro
STF abre inquérito contra Moro
Decisão
O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a abertura de inquérito para investigar acusações de supostas irregularidades e crimes cometidos pelo então juiz Sergio Moro e procuradores do Ministério Público Federal (MPF) no Paraná em operações como a Lava Jato.
Sergio Moro terá que se defender, novamente, de acusações a respeito de má conduta na Lava Jato.
Acusação
O caso chegou ao STF a partir de acusações feitas pelo empresário paranaense Antônio Celso Garcia, conhecido como Tony Garcia. Ele exerceu mandato de deputado estadual entre 1998 e 2002.
Garcia acusa o hoje senador Sergio Moro (União-PR) de não ter atuado com imparcialidade em processos contra ele no Paraná e de ter determinado que grampeasse autoridades em busca de provas para casos que não tinha relação com o seu.
As acusações se referiam inicialmente a supostas condutas de Moro durante as investigações de fraudes relacionadas ao Consórcio Nacional Garibaldi, no começo dos anos 2000.
O mesmo modo de operar teria ocorrido na Lava Jato, segundo as declarações de Garcia.
O empresário pediu ao STF em setembro a anulação de todos os atos praticados pelo então juiz Sergio Moro nos casos em que foi investigado.
Defesa
O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) disse, nesta segunda-feira (15), desconhecer a ação do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a abertura de inquérito para investigar acusações de supostas irregularidades e crimes cometidos enquanto ele desempenhava a função de juiz em operações como a Lava Jato.
De acordo com Moro, “não houve qualquer irregularidade no processo de quase vinte anos atrás”. Ainda diz que sua defesa “não teve acesso aos autos”.
Mais tarde, em declaração nas redes sociais, Moro disse:
“Não temo qualquer investigação, pois sempre agi com correção e com base na lei para combater o crime, mas lamento a abertura de inquérito sobre fatos de quase 20 anos atrás e ao qual minha defesa não teve acesso, com base nas fantasias confusas de um criminoso condenado e sem elementos que as suportem.”
Razões
Tony Garcia foi investigado pelo caso do Consórcio Nacional Garibaldi no Paraná. Em 2004, ele fechou acordo de colaboração premiada com o MPF que foi homologado por Moro.
Conforme Garcia, o ajuste estabeleceu trinta tarefas para ele cumprir, incluindo busca de informações sobre desembargadores, juízes, conselheiros do Tribunal de Contas do Paraná, deputados federais, ministros e secretários.
Nas oitivas ao STF, em 2023, Garcia disse que essas tarefas abrangiam investigados da Operação Lava Jato sob “o mesmo algoritmo criminoso, em que o declarante era obrigado a investigar pessoas com o uso de escutas ambientais, fornecimento de números de telefones para fins de interceptação, bem como demais informações privilegiadas (agente infiltrado clandestino)”, conforme a PGR.
A defesa de Garcia disse ao STF, em setembro, que o empresário foi “o laboratório do abusador contumaz Sérgio Fernando Moro; foi a partir do seu caso que o então Magistrado testou e desenvolveu as táticas ilegais que foram reproduzidas, anos depois, na Operação Lava Jato”.
Segundo o documento, o acordo de colaboração premiada “demonstra que Tony Garcia foi, de fato, agente infiltrado do então Juiz Sérgio Fernando Moro!”.
Conforme Garcia, Moro teria pedido que ele se “reunisse com alvos determinados” para que fizesse grampos com escuta ambiental a fim de “esclarecer fatos pertinentes à investigação”.
Uma das tarefas envolvia levantar provas sobre susposta cobrança para receber um recurso no Tribunal de Justiça do Paraná.
Outra refere-se à apuração sobre suposta influência na escolha de um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por meio do ex-advogado de Garcia, Roberto Bertholdo.
Uma das últimas tarefas, segundo as informações apresentadas por Garcia, envolvia trazer provas sobre um fato criminoso que o próprio Moro teria sido vítima: uma interceptação da linha telefônica do então juiz por Bertholdo.
Apuração
Sobre as acusações contra Moro, Garcia foi ouvido no STF por três vezes, entre agosto e setembro de 2023. Nos relatos, ele sustentou que teria atuado como um “colaborador infiltrado”, no meio político e empresarial, para o então juiz Sergio Moro e Procuradores da República.
Os policiais que colheram seu depoimento disseram que a narrativa apresentada pelo empresário foi “longa, detalhista e por vezes confusa”, e que ele falou “sobre diversos aspectos potencialmente criminosos envolvendo agentes públicos e privados que atuaram direta e indiretamente na Operação Lava-lato”.
Segundo parecer da PGR, a partir dos relatos de Tony Garcia a PF “entendeu que possam existir diversas situações de chantagens, coações, ameaças e constrangimentos até os dias atuais”.
A PF pediu para investigar supostos crimes de concussão, fraude processual, organização criminosa e lavagem de capitais.
A corporação defendeu a necessidade de oitiva de Moro, de sua esposa e atual deputada Rosângela Moro, da juíza Gabriela Hardt, do ex-deputado e ex-procurador Deltan Dailagnol e de “membros remanescentes do sistema de justiça criminal paranaense que compuseram a Força-Tarefa da Lava Jato ou nela ou com ela atuaram”.
Para a PGR, caso os relatos de Tony Garcia sejam “eventualmente comprovados”, eles apontariam “para um desvirtuamento das decisões tomadas no âmbito da Operação Lava Jato”.
Entre as supostas práticas irregulares da operação, citadas por Garcia, há determinação para realização de escutas ambientais e a exigência de entrega de gravações clandestinas, suposta cooptação de colaboradores pré-selecionados e eventual existência de chantagens, coações e ameaças.
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